quarta-feira, 21 de setembro de 2016

BARROCO

Foi o período da Literatura Brasileira que se iniciou nos anos 1600, vindo depois do Quinhentismo (por isso pode ser chamado também de Seiscentismo). O estilo barroco nasceu em decorrência da crise do Renascimento, ocasionada, principalmente, pelas fortes divergências religiosas e imposições do catolicismo e pelas dificuldades econômicas decorrentes do declínio do comércio com o Oriente.
Todo o rebuscamento presente na arte e literatura barroca é reflexo dos conflitos dualistas entre o terreno e o celestial, o homem (antropocentrismo) e Deus (teocentrismo), o pecado e o perdão, a religiosidade medieval e o paganismo presente no período renascentista.

   
  



Dualidades e Antíteses
Conflito entre o corpo e a alma, a vida terrena e a vida eterna, a vida virtuosa e a vida do pecado, a vida e a morte, a razão e a fé. É o conflito entre os princípios cristãos da Igreja Católica e os princípios do Renascimento e do Classicismo (paganismo, racionalismo, antropocentrismo). O Barroco é uma época de conflitos de princípios opostos, é a época das antíteses, é a época em que se tenta conciliar o inconciliável. A Igreja Católica reage à Reforma Protestante com a Contrarreforma e com a Inquisição, procurando reprimir as manifestações culturais que vão contra as suas doutrinas. Portanto, esse é um período de contradições e de dualidades, onde o homem se vê perdido entre a doutrina cristã e as ideias do Renascimento (Classicismo).
Cultismo e Conceptismo
O homem barroco valoriza o cultismo, ou seja: a linguagem difícil e rebuscada, cheia de inversões e de jogo de palavras, empregando demais as figuras de linguagem. Veja um exemplo de poesia cultista:
Ao braço do Menino Jesus de Nossa Senhora das Maravilhas, A quem infiéis despedaçaram
O todo sem a parte não é todo;
A parte sem o todo não é parte;
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga que é parte, sendo o todo. 
(Gregório de Matos)

Já o conceptismo, que ocorre principalmente na prosa, é marcado pelo jogo de ideias, de conceitos, seguindo um raciocínio lógico, nacionalista, que utiliza uma retórica aprimorada. A organização da frase obedece a uma ordem rigorosa, com o intuito de convencer e ensinar. Veja um exemplo de prosa conceptista:
Para um homem se ver a si mesmo são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelhos e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo, há mister¹ luz, há mister espelho e há mister olhos. (Pe. Antônio Vieira)
¹mister: necessidade de, precisão.

O Tempo
O tempo passa rápido, a vida é efêmera (é rápida), o tempo é veloz e destrói tudo. Tudo é instável e passageiro. O homem barroco vive esse conflito de modo angustiado.

Barroco em Portugal: Pe. Antônio Vieira.

No Barroco Português, quem se destaca é o padre Antônio Vieira. Seus sermões estavam a serviço das causas políticas que abraçava e defendia. Defendia os índios contra a escravidão (mas não tinha a mesma postura com a escravização dos negros, limitando a apontar-lhes uma perspectiva de vida após a morte que compensasse os sofrimentos da vida). Seus sermões eram dotados de raciocínios complexos e lógicos, com metáforas, comparações e alegorias (um discurso que faz entender outro; exemplo: "semeadura" ou "semente do trigo" são alegorias que representam uma coisa só: a disseminação da doutrina cristã).

Barroco no Brasil: Gregório de Matos

No Barroco brasileiro, o grande destaque foi Gregório de Matos. Por ser irreverente e satírico ele recebeu o apelido de "Boca do Inferno". Sua poesia pode ser classificada como líricareligiosa, filosófica ou satírica

Poesia Lírica: dualismo amoroso (carne X espírito), que leva a um sentimento de culpa cristão. A mulher é a personificação do pecado e da perdição espiritual (morte). O apelo sensorial do corpo se contrapõe ao ideal religioso. O poeta fica dividido entre o pecado (representado na mulher) e o espírito (cristianismo). 

Poesia Religiosa: obedece aos fundamentos do Barroco europeu. Temas: amor a Deus, culpa, arrependimento, pecado, perdão. Linguagem culta, com inversões e muitas figuras de linguagem. 

Poesia Filosófica: desconcerto do mundo, consciência da transitoriedade da vida e do tempo. 

Poesia Satírica: Criticou todas as classes da sociedade baiana de seu tempo. Linguagem diversificada, com termos indígenas, africanos, palavrões, gírias e expressões locais. 

Figuras de Linguagem no Barroco
 As figuras de estilo mais comuns nos textos barrocos reforçam a tentativa de apreender a realidade por meio dos sentidos. Observe:
Metáfora: é uma comparação implícita. Tem-se como exemplo o trecho a seguir, escrito por Gregório de Matos:
Se és fogo, como passas brandamente?
Se és neve, como queimas com porfia?
Antítese: reflete a contradição do homem barroco, seu dualismo. Revela o contraste que o escritor vê em quase tudo. Observe a seguir o trecho de Manuel Botelho de Oliveira, no qual é descrita uma ilha, salientando-se seus elementos contrastantes:
Vista por fora é pouco apetecida
Porque aos olhos por feia é parecida;
Porém, dentro habitada
É muito bela, muito desejada,
É como a concha tosca e deslustrosa,
Que dentro cria a pérola formosa.
Paradoxo: corresponde à união de duas ideias contrárias num só pensamento. Opõe-se ao racionalismo da arte renascentista. Veja a estrofe a seguir, de Gregório de Matos:
Ardor em firme Coração nascido;
pranto por belos olhos derramado;
incêndio em mares de água disfarçado;
rio de neve em fogo convertido.
Hipérbole: traduz ideia de grandiosidade, pompa. Veja mais um exemplo de Gregório de Matos:
É a vaidade, Fábio, nesta vida, 
Rosa, que da manhã lisonjeada,
Púrpuras mil, com ambição dourada, 
Airosa rompe, arrasta presumida.
Prosopopeia: personificação de seres inanimados para dinamizar a realidade. Observe um trecho escrito pelo Padre Antonio Vieira:
No diamante agradou-me o forte, no cedro o incorruptível, na águia o sublime, no Leão o generoso, no Sol o excesso de Luz.


QUESTÕES ENEM



ENEM 2014 Questão  111

Quando Deus redimiu da tirania
Da mão do Faraó endurecido
O Povo Hebreu amado, e esclarecido,
Páscoa ficou da redenção o dia.
Páscoa de flores, dia de alegria
Àquele povo foi tão afligido
O dia, em que por Deus foi redimido;
Ergo sois vós, Senhor, Deus da Bahia.
Pois mandado pela Alta Majestade
Nos remiu de tão triste cativeiro,
Nos livrou de tão vil calamidade.
Quem pode ser senão um verdadeiro
Deus, que veio estirpar desta cidade
o Faraó do povo brasileiro.
(DAMASCENO,  D. Melhores  poemas: Gregório de  Matos. São Paulo: 2006)
Com uma  elaboração de   linguagem e uma visão  de  mundo  que  apresentam  princípios barrocos, o   soneto de  Gregório de  Matos apresenta  temática expressa  por

A) visão cética  sobre as relações  sociais.
B) preocupação com  a identidade  brasileira.
C) crítica  velada à forma de governo  vigente.
D) reflexão sobre dogmas do  Cristianismo.
E) questionamento das  práticas  pagãs  na Bahia.

ENEM 2012  QUESTÃO 131


BARDI, P. M. Em torno da escultura no Brasil. São Paulo: Banco Sudameris Brasil, 1989. (Foto: Reprodução/Enem)

Com contornos assimétricos, riqueza de detalhes nas vestes e nas feições, a escultura barroca no Brasil tem forte influência do rococó europeu e está representada aqui por um dos profetas do pátio do Santuário do Bom Jesus de Matosinho, em Congonhas (MG), esculpido em pedra-sabão por Aleijadinho. Profundamente religiosa, sua obra revela

A ) liberdade, representando a vida de mineiros à procura da salvação.

B ) credibilidade, atendendo a encomendas dos nobres de Minas Gerais.

C ) simplicidade, demonstrando compromisso com a contemplação do divino.

D ) personalidade, modelando uma imagem sacra com feições populares.

E ) singularidade, esculpindo personalidades do reinado nas obras divinas.





RESPOSTAS QUESTÕES ENEM
ENEM 2014 Questão  111 – Letra C
ENEM 2012  Questão 131 – Letra D          


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