Foi o período da Literatura Brasileira que se iniciou nos
anos 1600, vindo depois do Quinhentismo (por isso pode ser chamado também de Seiscentismo). O
estilo barroco nasceu em decorrência da crise do Renascimento, ocasionada,
principalmente, pelas fortes divergências religiosas e imposições do
catolicismo e pelas dificuldades econômicas decorrentes do declínio do comércio
com o Oriente.
Todo o rebuscamento
presente na arte e literatura barroca é reflexo dos conflitos dualistas entre o
terreno e o celestial, o homem (antropocentrismo) e Deus (teocentrismo), o
pecado e o perdão, a religiosidade medieval e o paganismo presente no
período renascentista.
Dualidades e Antíteses
Conflito entre o corpo e a alma, a
vida terrena e a vida eterna, a vida virtuosa e a vida do pecado, a vida e a morte, a razão e a fé. É o conflito entre os princípios cristãos
da Igreja Católica e os princípios do Renascimento e do Classicismo (paganismo,
racionalismo, antropocentrismo). O Barroco é uma época de conflitos de
princípios opostos, é a época das antíteses, é a época em que se tenta
conciliar o inconciliável. A Igreja Católica reage à Reforma Protestante com a
Contrarreforma e com a Inquisição, procurando reprimir as manifestações
culturais que vão contra as suas doutrinas. Portanto, esse é um período de contradições
e de dualidades, onde o homem se vê perdido entre a doutrina cristã e as ideias
do Renascimento (Classicismo).
Cultismo e Conceptismo
O homem barroco valoriza o cultismo, ou
seja: a linguagem difícil e rebuscada, cheia de inversões e de jogo
de palavras, empregando demais as figuras de linguagem. Veja um exemplo de poesia cultista:
Ao
braço do Menino Jesus de Nossa Senhora das Maravilhas, A quem infiéis
despedaçaram
O todo sem a parte não é todo;
A parte sem o todo não é parte;
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga que é parte, sendo o todo. (Gregório de Matos)
A parte sem o todo não é parte;
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga que é parte, sendo o todo. (Gregório de Matos)
Já
o conceptismo, que ocorre principalmente na prosa, é
marcado pelo jogo de ideias, de conceitos, seguindo um raciocínio lógico,
nacionalista, que utiliza uma retórica aprimorada. A organização da frase
obedece a uma ordem rigorosa, com o intuito de convencer e ensinar. Veja um
exemplo de prosa conceptista:
Para um homem se ver a si mesmo
são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não
se pode ver por falta de olhos; se tem espelhos e olhos, e é de noite, não se
pode ver por falta de luz. Logo, há mister¹ luz, há mister espelho e há mister
olhos. (Pe. Antônio Vieira)
¹mister: necessidade de,
precisão.
O Tempo
O tempo passa rápido, a vida é efêmera (é rápida),
o tempo é veloz e destrói tudo. Tudo é instável e passageiro. O homem barroco
vive esse conflito de modo angustiado.
Barroco em Portugal: Pe. Antônio
Vieira.
No Barroco Português, quem se destaca é o padre Antônio Vieira. Seus sermões estavam a serviço das causas políticas que abraçava e defendia. Defendia os índios contra a escravidão (mas não tinha a mesma postura com a escravização dos negros, limitando a apontar-lhes uma perspectiva de vida após a morte que compensasse os sofrimentos da vida). Seus sermões eram dotados de raciocínios complexos e lógicos, com metáforas, comparações e alegorias (um discurso que faz entender outro; exemplo: "semeadura" ou "semente do trigo" são alegorias que representam uma coisa só: a disseminação da doutrina cristã).
Barroco no Brasil: Gregório de Matos
No Barroco brasileiro, o grande
destaque foi Gregório de Matos. Por ser irreverente e satírico ele recebeu o
apelido de "Boca do Inferno". Sua poesia pode ser classificada como lírica, religiosa, filosófica ou
satírica.
Poesia Lírica: dualismo amoroso (carne X espírito),
que leva a um sentimento de culpa cristão. A mulher é a personificação do
pecado e da perdição espiritual (morte). O apelo sensorial do corpo se
contrapõe ao ideal religioso. O poeta fica dividido entre o pecado (representado
na mulher) e o espírito (cristianismo).
Poesia Religiosa: obedece aos fundamentos do Barroco
europeu. Temas: amor a Deus, culpa, arrependimento, pecado, perdão. Linguagem
culta, com inversões e muitas figuras de linguagem.
Poesia Filosófica: desconcerto do mundo, consciência da
transitoriedade da vida e do tempo.
Poesia Satírica: Criticou todas as classes da sociedade
baiana de seu tempo. Linguagem diversificada, com termos indígenas, africanos,
palavrões, gírias e expressões locais.
Figuras de Linguagem no Barroco
As figuras
de estilo mais comuns nos textos barrocos reforçam a tentativa de apreender a
realidade por meio dos sentidos. Observe:
Metáfora: é uma comparação implícita. Tem-se como
exemplo o trecho a seguir, escrito por Gregório de Matos:
Se és fogo, como passas
brandamente?
Se és neve, como queimas com porfia?
Se és neve, como queimas com porfia?
Antítese: reflete a contradição do homem barroco, seu
dualismo. Revela o contraste que o escritor vê em quase tudo. Observe a seguir
o trecho de Manuel Botelho de Oliveira, no qual é descrita uma ilha,
salientando-se seus elementos contrastantes:
Vista por fora é pouco
apetecida
Porque aos olhos por feia é parecida;
Porém, dentro habitada
É muito bela, muito desejada,
É como a concha tosca e deslustrosa,
Que dentro cria a pérola formosa.
Porque aos olhos por feia é parecida;
Porém, dentro habitada
É muito bela, muito desejada,
É como a concha tosca e deslustrosa,
Que dentro cria a pérola formosa.
Paradoxo: corresponde à união de duas ideias contrárias
num só pensamento. Opõe-se ao racionalismo da arte renascentista. Veja a
estrofe a seguir, de Gregório de Matos:
Ardor em firme Coração nascido;
pranto por belos olhos derramado;
incêndio em mares de água disfarçado;
rio de neve em fogo convertido.
pranto por belos olhos derramado;
incêndio em mares de água disfarçado;
rio de neve em fogo convertido.
Hipérbole: traduz ideia de grandiosidade, pompa. Veja
mais um exemplo de Gregório de Matos:
É a vaidade, Fábio, nesta vida,
Rosa, que da manhã lisonjeada,
Púrpuras mil, com ambição dourada,
Airosa rompe, arrasta presumida.
Rosa, que da manhã lisonjeada,
Púrpuras mil, com ambição dourada,
Airosa rompe, arrasta presumida.
Prosopopeia: personificação de seres inanimados para
dinamizar a realidade. Observe um trecho escrito pelo Padre Antonio Vieira:
No diamante agradou-me o forte,
no cedro o incorruptível, na águia o sublime, no Leão o generoso, no Sol o
excesso de Luz.
QUESTÕES ENEM
ENEM 2014 Questão 111
Quando Deus redimiu da tirania
Da mão do Faraó endurecido
O Povo Hebreu amado, e esclarecido,
Páscoa ficou da redenção o dia.
Da mão do Faraó endurecido
O Povo Hebreu amado, e esclarecido,
Páscoa ficou da redenção o dia.
Páscoa de flores, dia de alegria
Àquele povo foi tão afligido
O dia, em que por Deus foi redimido;
Ergo sois vós, Senhor, Deus da Bahia.
Àquele povo foi tão afligido
O dia, em que por Deus foi redimido;
Ergo sois vós, Senhor, Deus da Bahia.
Pois mandado pela Alta Majestade
Nos remiu de tão triste cativeiro,
Nos livrou de tão vil calamidade.
Nos remiu de tão triste cativeiro,
Nos livrou de tão vil calamidade.
Quem pode ser senão um verdadeiro
Deus, que veio estirpar desta cidade
o Faraó do povo brasileiro.
Deus, que veio estirpar desta cidade
o Faraó do povo brasileiro.
(DAMASCENO, D. Melhores poemas: Gregório
de Matos. São Paulo: 2006)
Com uma
elaboração de linguagem e uma visão de mundo
que apresentam princípios barrocos, o soneto de
Gregório de Matos apresenta temática expressa por
A) visão cética sobre as
relações sociais.
B) preocupação com a identidade
brasileira.
C) crítica velada à forma de
governo vigente.
D) reflexão sobre dogmas do
Cristianismo.
E) questionamento das práticas
pagãs na Bahia.
ENEM 2012 QUESTÃO 131
BARDI, P. M. Em torno da
escultura no Brasil. São Paulo: Banco Sudameris Brasil, 1989. (Foto:
Reprodução/Enem)
Com contornos assimétricos,
riqueza de detalhes nas vestes e nas feições, a escultura barroca no Brasil tem
forte influência do rococó europeu e está representada aqui por um dos profetas
do pátio do Santuário do Bom Jesus de Matosinho, em Congonhas (MG), esculpido
em pedra-sabão por Aleijadinho. Profundamente religiosa, sua obra revela
A ) liberdade, representando a vida de mineiros à
procura da salvação.
B ) credibilidade, atendendo a encomendas dos
nobres de Minas Gerais.
C ) simplicidade, demonstrando compromisso com a
contemplação do divino.
D ) personalidade, modelando uma imagem sacra com
feições populares.
E ) singularidade, esculpindo personalidades do
reinado nas obras divinas.
RESPOSTAS QUESTÕES
ENEM
ENEM 2014 Questão 111 –
Letra C
ENEM 2012 Questão 131 – Letra D
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http://www.resumosdeliteratura.com/
http://portal.inep.gov.br/web/enem
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