LITERATURA
PRATICADA NOS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA
Em
Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe,
o escritor africano vivia, até a data da independência, no meio de duas
realidades às quais não podia ficar alheio, a sociedade colonial e a sociedade africana. A escrita literária
expressava a tensão existente entre esses dois mundos e revelava que o
escritor, pelo fato de sempre utilizar uma língua europeia, era um “homem-de-dois-mundos”, e a sua escrita,
de forma mais intensa ou não, registrava a tensão nascida da utilização da
língua portuguesa em realidades bastante complexas.
Ao
produzir literatura, os escritores forçosamente transitavam pelos dois espaços, pois assumiam as
heranças oriundas de movimentos e correntes literárias da Europa e das Américas
e as manifestações advindas do contato com as línguas locais.
Esse
embate que se realizou no campo da linguagem literária foi o impulso
gerador de projetos literários característicos dos países que assumiram o
português como língua oficial. Tal realidade entra ainda em conflito com a
época em que estes territórios lutavam para conquistar sua independência, onde
a dualidade colonialismo/nativismo
ficou mais evidente ainda, momento em que países como Guiné-Bissau passam a produzir literatura em línguas
locais com maior profusão, num resgate
pela sua cultura.
LITERATURA ENGAJADA
A literatura não se preocupa em mobilizar apenas o
sentimento do leitor, mas sua consciência, Por isso, muitas vezes trata de questões políticas e ideológicas.
Quando esse objetivo predomina numa produção literária, estamos no terreno
da literatura engajada, que, grosso modo, procura denunciar aspectos problemáticos da
realidade em que vive o escritor, de
forma a construir para que se produzam certas mudanças na sociedade da qual ele
faz parte.
Na literatura africana em língua portuguesa predomina esse
engajamento, que se centra nas lutas
pela libertação dos territórios colonizados pelos portugueses.
Como se sabe, diversos países do continente africano foram
ocupados pelos portugueses desde o século XV: Angola, Moçambique, Guiné-Bissau,
Ilhas de São Tomé e Príncipe, o arquipélago de Cabo Verde. O processo de
libertação desses países só se concluiu em 1974.
Muitos escritores
africanos do século XX participaram ativamente na luta pela libertação desses
povos. Agostinho Neto, por exemplo, fundou o clandestino Movimento
anticolonialista (MAC). O FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) contou
com a participação de vários escritores.
Não se pode subestimar o papel significativo que as mulheres africanas exerceram nesta literatura; em seus livros elas relatam suas experiências complexas e peculiares, em um continente no qual as mulheres ainda enfrentam problemas típicos dos séculos passados, como a poligamia, ser mãe, a prostituição e a subjetividade feminina, além das formas encontradas para fugir da intensa repressão que sofrem.
Muitos autores
brasileiros influenciaram autores africanos.
Não se deve esquecer da literatura oral que circula nas
nações africanas, literatura rica em contos, fábulas, mitos, lendas, entre
outros gêneros.
Do século XVI ao século XIX, mais de 90% da população
dominada pelos portugueses não sabia ler nem escrever. Consequentemente, a
população literária constituía-se, como no Brasil do século XVI, da literatura
de viagens. São obras de escritores portugueses, voltadas para o exotismo da
África.
Uma literatura de caráter nacional despontou timidamente no início
do século XX, no período dos movimentos
da negritude. O romance O
segredo da morta, de Antônio de Assis Júnior, que foi publicado como
folhetim em um jornal angolano e depois em livro (1935) é um marco na história
da literatura angolana de caráter nacional. Obra de mistério arquitetada
com admirável técnica, incorpora um vasto repertório de provérbios, adivinhas e
expressões populares de Angola. É o olhar nacional que se impõe ao colonizador.
Mas foi na segunda metade do século XX que despontaram de
fato os escritores de ascendência africana. A produção predominante é de poesia, e muitos dos nomes mais
expressivos dessa poesia também faziam parte dos movimentos de libertação.
Depois da libertação, apesar de língua portuguesa não ser
falada por toda a população, foi ela a eleita como língua oficial dos cinco
países africanos que passaram por esse processo.
Na fase que se seguiu à Independência (1974), tendências
literárias diversas formaram a literatura africana de expressão portuguesa.
Entretanto, o consumo dessa literatura na própria África é pequeno, pois boa
parte da população do continente ainda é analfabeta.
A literatura africana combate o exotismo sob todas as formas, quer se apresente recuperando narrativas tradicionais, quer utilize ritmos significantes emprestados das culturas populares.
Como se percebe, a poesia das ex-colônias portuguesas, nos tempos das lutas pela libertação e logo após a conquista da autonomia política, é marcada pela denúncia dos horrores da guerra, pela utopia da construção de nações livres, pela busca de uma identidade que foi apagada pela opressão colonialista. Entretanto, não deixa de lado temas recorrentes da lírica universal.
Prezi: https://prezi.com/miugl213m8ig/copy-of-copy-of-literatura-africana/
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